Conto - Alice

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Por Adão Alves

Hoje trago-lhes um conto, uma fábula mais "dark". Espero que gostem. Dedico especialmente para minha amiga Karol.


Alice
Adão Alves de O. Fh.

Ela corria apressadamente, aquela ruiva de meia arrastão, saia curta, cabelos em formato de xuquinhas. Atravessou toda a planície com um sorriso no olhar. A cidade ficara às suas costas e as folhas caídas do outono voavam ao seu redor.
Correu e quando viu as árvores não hesitou, continuou até alcançar o pântano. Ali parou por alguns instantes. Sentiu o cheiro das árvores podres e não ficou satisfeita. Alice, onde estás indo?
Alice atravessou o pântano com cuidado, e continuou a correr. Uma névoa começava a pairar no ar. Ela não hesitava. Criaturas observavam-na, sorrateiramente sobre as árvores.
- Olá Kerópides! Prazer em vê-los! - E continuou a correr.
Qualquer um teria medo ao ver os tais Kerópides, mas não Alice, ela não temia nada! Passou por criaturas assustadoras mas todas eram suas amigas. Seria Alice amiga das trevas?
Fato é que ela não parecia comum. Não, definitivamente ela não era comum. Ela estava diante de um cemitério em ruínas. O que fazia ali? Como descobrira este lugar. Concerteza Alice descobrira aqueles alojamentos em suas indas e vindas por aquelas terras. Mas porque estar ali?
- Olá Dante! Matsu! Willie! Stela! Jonas! Peter! - E assim ia comprimentando cada cadáver! Por onde ela passava subia mãos por debaixo da terra e acenava para a garotinha!
Mas havia um ser, cadavélico com a metade de cima do corpo solto... Largado em um buraco.
- Olá Senhor Cliver! Como está hoje?
- Olá Alice - Respondeu o cadáver com voz rouca - Estou cansado. Eu não deveria estar aqui.
- Eu sei Senhor. Um dia eu serei mui forte! Você vai sair daqui!
- O tempo dos homens demora, minha doce garota! Mas serei paciente. Sente-se aqui ao meu lado.
Ela sentou-se e apoiou sua cabeça nos ombros do cadáver.
- Conto as horas pra você chegar até aqui. Eu tinha uma filha curiosa como você. Queria vê-la, mas ela morrera junto com a mãe e eu. Queria saber quem me trouxe aqui. - Fez uma pausa e prosseguiu. - O assaltante atirou nelas e em mim. Mas estou longe do resto do meu corpo. Como poderei descansar?
- Senhor, virei todos os dias vê-lo, assim como tenho feito. Um dia, serei tão forte, que poderei arrastar você para seu túmulo e enterrá-lo dignamente. Nesse dia você saberá um segredo!
- Mesmo? Faria isso por mim?
- Claro! É uma promessa!
- Muito obrigado doce Alice!
- Por nada! - Sorriu graciosamente.
Ela permanecera conversando com o cadáver por horas.
- Agora tenho de ir. Minha mãe deve estar preocupada.
- Sim! Vá doce garotinha! Amanhã nos falamos mais!
- Um beijo Senhor Cliver!
E se foi. Despediu-se de todos os cadáveres e nas redondezas do cemitério chorando, voltou-se para trás. Ela não poderia ser mais avistada por nenhum habitante daquelas terras.
- Adeus pai, até amanhã. Naquele dia, apenas minha mãe fora morta, eu sobrevivi, carrego as cicatrizes comigo. Hoje moro com uma família que me ama e finjo não me lembrar daquele tempestuoso dia, mas fora eu que o trouxera aqui. As outras partes, não foram possiveis de serem encontradas. Nem minha mãe. Mas chegará o dia em que eu a trarei aqui, para você, e enterrarei vocês dois juntos, numa união eterna. Não sofra, me de apenas um tempinho! Eu o amo pai!
E se fora, pela planície até sua casa, correndo como uma garota feliz.

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